Ele não viu
ninguém no banheiro. Usou o mictório e relaxou. Quando terminou, pouco antes de
sair do banheiro, ele ouviu um barulho. Ele parou. Uma das portas dos boxes do
banheiro estava fechada. Por um momento Harry achou que aquele barulho poderia
vir da Murta que Geme. Mas era o banheiro masculino, nem morta a Murta iria
invadir o banheiro dos meninos.
Mas eram
sons de suspiros. Soluços. Harry abriu delicadamente a porta do boxe. Draco Malfoy
estava sentando em cima do vaso, com as mãos abraçando as pernas, chorando como
um bebê.
- Olá,
Malfoy. Dia ruim?
- Não é...
da sua conta... Potter! – Os olhos de Malfoy estavam vermelhos e suas bochechas
molhadas. Harry sorria.
- Tudo bem,
cara. Eu também choraria se eu fosse você.
Malfoy avançou
para cima de Potter, estrangulando-o. Ele o derrubou no chão. Mas suas mãos
tremiam, ele não conseguia ter força para apertar o pescoço de Harry.
Potter gargalhava.
Draco sentou-se
no vaso novamente. Ele pôs as mãos nos cabelos. Suas mãos tremiam muito. Harry se
levantou com um cínico sorriso.
- Pelo
jeito você não está indo bem no estágio probatório dos comensais da morte.
- O que
você sabe?
- Não vamos
discutir isso de novo. Eu sei. Mas tudo bem, pode chorar à vontade. Lord Voldemort
vai patrocinar algum psicólogo pra você?
Malfoy tentou
se recompor. Ele tirou um lenço do bolso e enxugou as lágrimas
- Isso não
tem nada a ver com Lord Voldemort, ou comensais da morte, nem nada. Harry... eu
não gosto de você. Nunca gostei. Ainda mais agora. Mas... porra... ainda bem
que você sabe. Você é o único que sabe. Eu não contei a ninguém. É uma coisa
horrível, mas eu tenho que fazer. Sei lá, acho que você entende como é difícil.
- Não,
desculpa, eu nunca fui incumbido pra matar ninguém, então eu não sei como é.
- Olha pra
você. Nem parece que não tem família. Mas droga... – Draco chorava de raiva. –
Eu invejo você. Eu te invejo com todas as minhas forças. Nada parece te abater.
Eu queria ser forte. Eu queria enfrentar as coisas de cabeça erguida como você
sempre faz. Você não merece a vida que tem.
- Cara, já
vi que você não me conhece.
Harry se aproximou
de Draco. Olhou em seus olhos. Suspirou.
- Você tem
razão, Draco. Eu não tenho família. Tenho meus tios trouxas, mas para eles é
como se eu não existisse. Eu não sei por que estou dizendo isso pra você. Acho que
é porque não sei como lidar quando vejo um homem chorando.
Draco deu
uma sutil risada. Harry riu junto.
- Porra...
você é meu inimigo. Eu não deveria chorar na sua frente, isso demonstra
fraqueza. Droga, eu tô sozinho pra caralho.
- Sério? Eu
nunca te vi sozinho. Sempre te vi com os grandalhões da Sonserina.
- Eles não
entendem nada. Não dá pra conversar com eles. Acho que nem gostam de mim. Mas olha
pra você, todo mundo gosta de você.
- Todo
mundo quem? Draco, com quantas pessoas você me vê falar aqui nesse colégio
inteiro?
- Weasley e
Hermione. Mas eu já te vi com a Luna, então...
- Então
significa que eu só tenho três amigos. E quer saber de uma coisa? Isso é mais
do que eu mereço. Draco, deixa eu te dizer uma coisa. Amizade não só é gostar
da pessoa. É ajudar alguém a enfrentar um dragão, é estar ali quando a pessoa
que seu amigo mais ama na vida vai embora, é rir e sorrir apenas porque aquela
pessoa está do seu lado. Draco, eu não sei como é a linha de pensamento da
Sonserina, mas se eu a seguisse, eu não teria amigo algum. Ninguém gosta da
Luna, mas eu adoro conversar com ela, não tô nem aí se ela é estranha ou não. Todo
mundo acha o Rony idiota, e eu também, mas eu sempre dou risada quando tô perto
dele e isso é perfeito. E quer uma puta prova de amizade? Imagine a garota dos
seus sonhos. Imagine você conhecer a garota mais linda do mundo. Imagine você
ver essa garota todo dia. Agora imagine você abrir mão dela por causa de um amigo. Sinta-se
um privilegiado, Draco, porque você é a primeira pessoa a quem conto isso. Eu sempre
fui louco pela Hermione. Sempre. Mas eu nunca tive coragem de magoar o Rony. Lembra
quando ele tava namorando a Lilá Brown? A Hermione desabou. Chorou na minha
frente e não foi só uma vez. Eu devo tá na porra duma friendzone, mas tudo bem.
Sabe por quê? Eu encontrei a Gina. Ou melhor, ela me encontrou. Ela me resgatou
quando eu tava no fundo do poço. Não só por causa da Hermione, mas por várias
outras coisas também. Sofrer em silêncio é uma merda. Mas tudo bem, uma hora as
coisas se acalmam. O Rony realmente gosta da Mione e ela vai ser muito feliz
com ele. E quer saber de uma coisa? Eu não troco a Gina por nada nesse mundo.
Draco olhava
para o chão. Harrya sorria. Draco olhou para Harry.
- Pelo
menos você tem alguém. Eu nunca tive ninguém, nem amigos.
- E a Pansy
Parkinson, aquela garota gostosinha com cara de buldogue? Você já pegou ela que
eu sei.
- Ela não
gosta de mim. Ela é afim do Blásio. Mas mesmo assim. Ninguém gosta de mim.
- Você é da
Sonserina, esperava que alguém gostasse de você?
Harry ajudou
Draco a se levantar. Ele o levou até o espelho.
- Olhe pra
você. Você está chorando. Sabe o que isso significa?
- Que eu
sou um fraco.
- Não. Você
é um ser humano. Você sente. Você pode querer ser frio, mas guardar não resolve
nada. Na verdade, só piora. A questão não é se a Pansy gosta de você, ou se
você tem amigos ou não. Apenas olhe pra você e tente enxergar aquilo que você
é. As pessoas vão gostar disso. Seu pai é um comensal da morte, tudo bem, você
só quer deixá-lo orgulhoso né?
- Você fala
assim com tanta naturalidade...
- Hehe,
pois é. Faz tempo que não te vejo entre os grandalhões da Sonserina. Não tem
mais graça ver o Crabbe e o Goyle tirando sarro do Neville sem você lá pra
soltar as piadinhas que você sempre solta. É sério, no dia em que o Rony foi
jogar como goleiro, a galera tava em peso pra rir dele. Estavam todos lá, menos
você. Eu pensei “tem alguma coisa errada”.
- Eu, Draco
Malfoy, sendo consolado por Harry Potter. É realmente tem alguma coisa errada.
Os dois
riram. Despediram-se. Foram embora, cada um seguindo seu caminho. Severo Snape,
que ouvia toda a conversa dos dois, falou baixinho:
- Porra, eu
pensei que eles fossem se pegar ali mesmo.