domingo, 24 de fevereiro de 2013

Harmony


Por que Harry Potter e Hermione Granger não ficaram juntos? Porque a autora não quis. Mas veja só como são as coisas. Uma das grandes diferenças entre os filmes do Harry Potter e os livros é essa química entre Harry e Hermione, algo que não está presente nos livros. A própria autora confessou que no começo planejava que os dois ficassem juntos, mas a ideia não vingou. Isso fica bem claro nos livros. Nos filmes não.
É quase como se os roteiristas torcessem pelos dois mesmo sabendo que no final eles não ficam juntos. São tantos olhares, tantos detalhes. Mas não, Hermione fica com Rony Weasley tanto nos livros quanto nos filmes. Os roteiristas não fariam essa leviandade de mudar drasticamente a história só para agradar a eles mesmos. Mas os detalhes estão lá, é quase como se nem houvesse razão pra Hermione ficar com o Rony no final. Quem lê os livros entende porque ela gosta do Rony. Nos filmes não.
Os livros focam muito mais na relação de amizade entre o Harry e o Rony do que nos filmes. Hermione é bem mais apegada ao Rony do que ao Harry. Já nos filmes a relação de amizade entre Harry e Hermione é mais enfatizada, existe uma química muito grande entre eles. E essa química é, na minha humilde opinião, um dos fatores que eleva a saga de filmes ao patamar de uma grande obra-prima.
Eu gosto de liberdade poética. Uma adaptação muito fiel a obra original acaba virando cópia, sem nada de mais. Prefiro quando o diretor expressa sua visão perante a obra. Uma dessas visões é a possível paixão silenciosa entre Harry e Mione. Silenciosa porque em nenhum momento ela é explícita, é apenas algo subjetivo, presente apenas nos detalhes. Há quem diga que não passe de amizade pura e verdadeira. Mas não e já explico o por quê.
Hermione pesquisou tudo sobre Harry Potter, conhecido como o menino que sobreviveu, antes de conhecê-lo no expresso de Hogwarts. Criou uma expectativa, mas estamos falando de crianças aqui e ela apenas pesquisou sobre ele por ser uma garota estudiosa. Tudo bem. Os dois primeiros filmes são os que eu menos gosto justamente por causa dessa questão da fidelidade. Eles são fieis demais, até demais. São fieis mesmo deixando passar muitas coisas boas dos livros. Não consigo encontrar nada dessa tal química entre eles nos dois primeiros filmes justamente porque isso é um elemento que NÃO está nos livros. Salvo o momento da Câmara Secreta em que Hermione fica petrificada. Harry se senta no cantinho da maca e murmura dizendo que sente a falta dela e queria que ela estivesse ali com ele. Mas calma. O terceiro filme é bastante diferente do livro e é uma obra-prima.
Em O Prisioneiro de Azkaban há uma cena no vilarejo de Hogsmead em que Harry está chorando escondido em sua capa de invisibilidade. Hermione vem consolá-lo enquanto Rony fica calado no fundo. Mesmo ele estando invisível ela o encontra. Talvez pelas pegadas, ou pelo som do choro dele, ou talvez pelo fato dela estar perdidamente apaixonada por ele e não admitir isso. Pode ser coisa minha, mas acho nesse filme ela é bem mais apegada ao Harry do que ao Rony.
No Cálice de Fogo tem uma cena em que Harry está numa tenda esperando a prova envolvendo o dragão começar. Hermione aparece por entre os panos da tenda e começa a conversar com Harry, preocupada se ele está bem. Detalhe, os dois não se veem, apenas ouvem o som de suas vozes por entre os panos da tenda. E de repente ela o abraça. Um abraço inesperado. E é a coisa mais linda do mundo

Eu sei, tem o baile que favorece toda aquela coisa dela e do Rony, mas daqui a pouco eu chego lá. Focalizemos por enquanto somente em Harmony (Harry + Hermione).
Na segunda prova, Harry estava destinado a salvar apenas Rony do lago negro. Mas sua primeira reação é salvar Rony e Hermione. As sereias não deixam e ela é salva por Vítor Krum. Tudo bem, talvez ele só quisesse salvá-la por ela ser sua amiga. Como eu odeio essa palavra! “Ela é só minha amiga” Isso é desculpa quando o cara não quer pegar mulher feia. E a Hermione não é nem um pouco feia.
Sabe como é a primeira cena da Hermione na Ordem da Fênix? Ela abraça o Harry inesperadamente. Gosto muito da cena em que o trio dialoga sobre o beijo de Harry e Cho Chang. Não vemos ciúmes, mas quando Rony insinua que Harry não saiba beijar, ouvimos uma frase bem interessante de Mione: “Aposto que o beijo do Harry foi mais que satisfatório”. Detalhes. Detalhes que talvez apenas eu veja.
Lembra quando o Voldemort entra no corpo do Harry, feito um encosto? Aí pra não deixar que o Lorde das Trevas o mate por dentro, o Harry começa a focalizar nas coisas da vida dele que valem a pena. A lembrança de seus pais, seus amigos, enfim. O que mais me chamou atenção foi que subitamente ele se lembra de um abraço inesperado que Hermione deu quando eles eram crianças. E também da risada dela. Pode procurar, vemos a imagem de Hermione rindo e ouvimos sua risada, som este tão emocionante e agradável aos ouvidos quanto a sublime trilha sonora. É realmente algo que se vale a pena viver.
E então chegamos no Enigma do Príncipe. O filme que deveria ser o auge do tão esperado romance entre Rony e Mione. E claro, Harry e Gina. Vemos Hermione chorando porque Rony está com outra. E sabe quem vai consolá-la? Ele mesmo. O Sr. Potter. Tudo bem, eles são só amigos, beleza.
A última cena desse filme é um diálogo entre Harry e Hermione no alto da torre de astronomia. Ela diz, mais uma vez, que eles estão juntos nisso tudo. A última frase do filme é dita por Harry que é “Nunca percebi como este lugar é lindo!”
Mas aí temos o auge. Relíquias da morte parte 1 é simplesmente o auge da química entre Harry e Mione. O modo como ela mexe no cabelo dele, o modo como ela subitamente se lembra da importância de comemorar o aniversário do Harry, eu não sei, são coisas tão bobas que parecem pequenas demais para serem citadas aqui.

É então que somos contemplados com a cena que ouso dizer que é o melhor momento de toda a saga. Harry e Hermione estão sozinhos na barraca. Ele se senta. Uma música no rádio toca ao fundo. Ele vê Hermione. Ela está triste. Quase chorando. Ele se levanta. Ele estende a mão pra ela. Ela pega sua mão e se levanta. Ele meio que começa a dançar uma cômica valsa. Aos poucos, ela se deixa levar. A música que antes tocava apenas no fundo predomina toda a cena. E os dois começam a dançar. Ela sorri. Eles dançam como os pais de Harry dançam na tão amada fotografia que ele tem guardado. Até que estranhamente os dois param de dançar. A música volta ao fundo como antes. E eles se olham. Deus! O olhar deles! Nenhuma palavra é dita nessa cena. É simplesmente perfeito.
E outra. Quando eles fogem da cobra Nagini e desaparatam para perto de um rio, bem longe dali. Ela diz as seguintes palavras: “Acho que devíamos ficar aqui, Harry. Ficar velhinhos”.
Envelhecer juntos. Que ideia!
O último filme é só pancadaria, não tem tempo pra coisas assim.
Mas vamos refletir um pouco. Por quê? Ou melhor, por que não? Primeiramente por que essa não era a mensagem da autora dos livros e ninguém iria passar por cima disso. Repare que falo de detalhes presentes apenas nos filmes, os livros justificam perfeitamente Hermione ficar com o Rony e o Harry ficar com a Gina. Por exemplo, no livro do Cálice de Fogo há um momento em que Harry e Rony ficam sem se falar. Harry então passa tempo integral com Hermione. A rotina passa a ser apenas biblioteca e estudo. Ou seja, eles não têm tanta intimidade assim sem o Rony intervindo entre eles. Eu acho isso triste. Por isso vamos refletir pelo ponto de vista dos filmes que é onde toda essa coisa está presente.

Rony e Hermione nem se gostavam no começo da saga. Repare no clube do bolinha do primeiro filme formado por Harry, Rony, Simas Finnigan e Dino Thomas. Rony literalmente escarra Hermione dizendo que ela não tem amigos. Ela ouve. Passa direto por eles segurando uma penca de livros e com tristeza no olhar.
Mas é como se aos poucos Rony e Hermione começassem a desenvolver algo dentro deles que nem eles mesmos entendem. Como o constrangido aperto de mão no final da Câmara Secreta. Ou na aula com o hipogrifo no Prisioneiro de Azkaban em que ela segura a mão de Rony meio que sem querer e eles ficam bem envergonhados. Tudo bem.
E então vem o baile de inverno no Cálice de Fogo. O escancarado ciúme de Rony. Vítor Krum aproveitou. Aproveitou bem. “O lance com o Vítor é uma coisa física” Mione sua danadinha! Ele toma a atitude de convidá-la para o baile enquanto Rony se rasga de ciúme mesmo que não admitindo nem pra si mesmo. E sabe o que ele faz? Faz Hermione chorar. Simplesmente estraga a noite dela com suas palavras rudes, egoístas e subjetivamente inseguras. Rony é um cara inseguro.

Mione chora e grita com Rony “No próximo baile, crie coragem e me convide antes que outro o faça. E não como última opção!” Rony, seu idiota. Não nego que ela goste dele. Ela gosta. Mas o Rony é muito idiota.
Em meio a tudo isso, temos Harry que nem sabe direito o que diabos tá acontecendo. Ele acompanha seu amigo enquanto Hermione chora no pé da escada. Harry nunca deixaria que isso acontecesse.
Entenda, ninguém é perfeito. Rony é um cara legal, corajoso e leal a seus amigos. Mas é inseguro, não confia no seu taco. Ele sempre gostou dela. Foi algo que cresceu aos poucos dentro dele e que simplesmente o dominou por completo. Sim, Rony sempre foi loucamente apaixonado pela Mione, nunca neguei isso. Gosto de acreditar que Harry, na categoria de melhor amigo, sempre soube disso, sempre notou. Sendo assim, a razão principal de Harry e Mione não ficarem juntos é a consideração que ele tem pelo amigo. Rony jamais superaria. Seria uma apunhalada em suas costas, a amizade deles jamais voltaria a ser a mesma. Harry sabe disso. Ele conhece o amigo. Sabe que a insegurança o domina. Não valeria a pena perder uma amizade que o ajudou tanto por causa de uma garota. Mas não é só uma garota, é a Hermione Granger, porra!
É aí que entra a Gina. Harry gosta dela, tudo bem. Mas a Gina sempre foi louca por ele. Sempre. Repare na primeira cena dela na Câmara Secreta. O modo como ela arregala os olhos e corre quando vê Harry ali em carne e osso na sua frente. “A Gina falou de você o verão inteiro.” Uma paixão platônica nutrida desde criança. Mas veja o quanto essa saga é genial. Isso não impede Gina Weasley de ser par de Neville Longbottom no baile. Gosto de acreditar que ela tirou o cabaço dele nessa noite. Também não a impede de ficar com Dino Thomas e de chorar por ele. Isso também não a impede de acabar se casando com Harry no fim das contas. Ou você esperava que eles se casassem virgens?
É aquela velha história de testar as outras opções até encontrar a certa. Assim como a vida. Veja bem, Harry nunca foi afim da Gina no começo. Ele queria pegar era a Cho Chang. Suponhamos que ele tenha aceitado dentre dele que Hermione era a menina dos olhos do seu melhor amigo. Ah, lá está uma japonesinha me dando mole. Vou investir, quem sabe eu esqueço essa loucura de querer pegar a paixão do meu melhor amigo. Esta é uma interpretação bastante pessoal, por isso entendo se você não concordar.
Mas aí a Cho Chang some. Presume-se que não deu certo entre eles. E então nosso herói passa a gostar da Gina. Ironicamente isso acontece quando ela tá namorando o Dino Thomas. Mas aí ela termina o namoro, aparece chorando e Harry se levanta da mesa meio que sem saber o que fazer. Aos poucos ele foi gostando cada vez mais da Gina, principalmente quando foi reconhecendo o quanto ela gosta dele. Mas não é Gina quem está sempre perto do Harry. É Hermione.

E então temos Lavender Brown, garota que passa a namorar Rony Weasley e razão das lágrimas de Hermione. Rony nunca gostou dela. Ele gostava da situação, gostava de ter uma namorada. Tanto é que quando ele começou a conhecê-la (note que isso só aconteceu DEPOIS que eles começaram a namorar) ele agradeceu por terem terminado. E por que terminaram? Porque quando Rony estava hospitalizado a primeira coisa que ele murmurou foi o nome dela. Mione. Estava meio que dormindo, quase inconsciente e murmurou baixinho o nome dela como se clamasse por uma necessidade. Hermione tinha que reconhecer isso. E Harry também.
Calma, não estou dizendo que Mione só ficou com Rony por pena, não. Tanto é que ela chora por ele. Nesse momento, quando Harry vem consolá-la, ela diz que sabe que o Harry é afim da Gina. Fico imaginando se ela não soubesse, ou se ela não tivesse que aceitar isso. Mas ela tem que aceitar. ‘Harry tá afim da Gina, não de mim’. O momento em que Rony estava namorando com Lilá era a oportunidade perfeita pro Harry ficar com a Mione. Por que não ficou? Consideração a Gina, talvez. Medo que ela chorasse como Mione está chorando. Não, Harry não queria isso. E se é isso, por que ele e a Gina não ficam logo imediatamente? Bem, eles acabam se beijando quando têm a primeira oportunidade na sala precisa. Acho perfeito como a Gina toma a iniciativa.
Depois disso, Harry e Gina não param de se pegar. Mas aí temos Relíquias da Morte parte 1 quando Harry e Hermione ficam sozinhos na jornada. SOZINHOS! E temos o melhor casal que eu já vi em toda minha vida. Eles não precisam se pegar pra serem perfeitos. Mas por que não se pegam?
Lembra quando Rony volta? E ele vai destruir a horcrux? O medalhão impõe medo a Rony fazendo-o enfrentar todas as suas inseguranças. Dizem que o sonho de um é o pesadelo de outro. Rony vê seu maior medo diante de seus olhos. Harry e Hermione se beijando loucamente. É só uma visão, eu sei. É um medo obscuro que Rony sempre nutriu. Harry sempre soube disso e sempre teve consideração. Mas como eu queria que aquele beijo fosse real. O melhor beijo da saga.
Rony nunca deixa de ser idiota. O modo como ele expressa o amor que sente por Hermione quando ele volta é ridículo. Mas pelo menos ele finalmente se expressou ao invés de continuar insistindo no erro. Hermione tinha que considerar isso. É, o jeito é ficar mesmo com o Rony. Ele é um cara legal, fiel e tudo mais. E além disso, o Harry já tá muito bem com a Gina mesmo. Nada como o conformismo para destruir um lindo sonho.
A autora já considerou que o Rony morresse. Talvez só assim desse certo entre Harmony. Mas será que valeria a pena? Não. Essa saga já tem mortes demais, perder mais um ótimo personagem apenas para satisfazer um capricho não iria valer a pena.

Já ouvi quem diga que Harry só não ficou com a Hermione porque seria muito clichê o protagonista ficar com a mocinha. É simplesmente o argumento mais ridículo. Harry Potter não é uma saga sobre protagonistas e vilões. É uma saga sobre vida. Sobre seres humanos, sentimentos, problemas, superação. É isso e muito mais. A vida não se resume a protagonistas e mocinhas.
São personagens, mas são personagens muito humanos. Cheios de problemas, inseguranças e conflitos internos. Eu não acho que Hermione não deveria ficar com Rony simplesmente porque ele é um babaca, não. Nem acho que Harry e Hermione deveriam ficar juntos apenas porque combinam ou porque são um “casal perfeito”.  Acho isso porque eles se amam. Se amam muito, mesmo que não admitiam isso. Mesmo que não saibam. É uma coisa presente apenas nos filmes mas que me faz refletir muito. Se eles não se amassem não haveria tantos detalhes assim ao longo da saga. Eu tenho muita esperança que no futuro o Harry traia a Gina e finalmente pegue a Hermione de jeito. Não tô nem aí se virasse uma novela do Manoel Carlos, tudo poderia se resolver com um bom obliviate.
Mas é isso. Tudo que resta são os desejos e os detalhes. Rony, seu sortudo filho da puta! Mas jamais esqueçamos uma coisa. Lembra do último filme? Sabe o que acontece com o Harry assim que ele diz que está destinado a morrer? Sabe o que acontece assim que ele diz que não há como ele sair vivo dessa batalha?
Inesperadamente Hermione o abraça. E chora.

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